Ele ficava em uma estante na biblioteca pública de Londres, sozinho e abandonado na companhia de deidades obviamente muito mais importantes. Espalhados ao redor das quatro paredes, esses grandes personagens pareciam, em sua totalidade, apresentar um claríssimo senso de sua própria superioridade. O pedestal de cada um deles trazia a devida informação sobre a terra e a raça que se orgulhara de havê-los possuído. Não havia dúvida quanto à sua posição, eram divindades importantes e reconhecidas como tais. Apenas o pequeno deus, acuado m seu canto, estava distante e apartado de sua companhia. Esculpido de modo grosseiro em pedra cinzenta, suas feições obliterada por completo pelo tempo e pela exposição sentava-se ali de modo isolado, o cotovelo nos joelhos e a cabeça enterrada entre as mãos; um pequeno deus solitário em um país estranho.
Não havia qualquer legenda para dar conta da terra de onde ele viera. Encontrava-se, de fato, perdido, sem honra ou renome, uma figurinha patética muito longe de casa... Ninguém o percebia; ninguém nem ao menos parava para olhá-lo. Por que parariam? Era tão insignificante, um bloco de pedra cinzenta posto no canto do salão. Ao seu lado, à esquerda e à direita, havia deuses romanos, desgastados sutilmente pela ação do tempo, ídolos plácidos com as mãos entrelaçadas e bocas cruéis que se curvavam em um sorriso que mostrava, sem rodeios, seu desdém por toda a humanidade. Havia também um deusinho rotundo, arrogante ao extremo, com um punho fechado, que sofria, de forma evidente, de uma percepção dilatada de sua própria importância, mas os passantes, às vezes, paravam para olhá-lo, nem que fosse apenas para rir do contraste de sua pomposidade com a ridente indiferença dos seus companheiros gregos...
E o pequeno deus perdido seguia ali sentado, sem esperanças, a cabeça afundada nas mãos, como estivera ao longo dos anos, até que um dia o impossível aconteceu, e ele encontrou... Um adorador. Jess Melton, cujas mãos ossudas seguravam firmemente aquele exemplar, perdeu-se no tempo admirando aquele titulo que tanto procurava. Apressou as passadas até a mesa mais próxima e mais vazia, e sentou-se. Estava preparado para começar a sua leitura sobre os tempos infindáveis, que certamente endossariam a sua tarde. Quando enfim abriu aquela primeira página, notou que em sua direção vinha uma mulher loira; ela usava um suéter multicolorido e uma saia que a fazia parecer fazer parte de alguma seita religiosa. A sua estatura era muito baixa e usava óculos fundo de garrafa... De certa forma ela lembrava Tinker Bell. – Senhor Melton, telefone para o senhor. – disse com a sua voz fina e esganiçada; que fizeram com que o jovem Melton, instintivamente, colocasse o dedo indicador no ouvido.
Era imensamente estranho alguém estar ligando para ele na biblioteca. Ora essas ninguém procurava por ele em sua casa, porque faria isso em uma biblioteca? Enfim... Se ele quisesse saber quem era, teria de atender. E assim o fez, seguiu, calmamente, a bibliotecária e foi rumo ao telefone. Falando por falar, era cabível que não era nenhuma garota. Primeiro Jessie não era nem um pouco atraente; Era extremamente pálido, como se nunca tivesse visto a luz do sol, e tinha os olhos fundos, como se fosse uma pessoa que vive eternamente de olheira. Os cabelos eram extremamente desgrenhados e sebosos; Era, simplesmente, a pessoa mais esquecida e desleixada de toda a Londres. Segundo, podemos dizer sem sombra de duvida que ele na era nenhum tipo de garanhão... Quando enfim, atendeu o telefone surpreendeu-se com a voz feminina que falava do outro lado. Jessie engoliu o seco...
O que se seguiu foi uma serie de respostas secas e monossilábicas; Tinker Bell, por sua vez, tentava prestar atenção em cada palavra que ele não dizia. Mas, teve certeza de ouvir a pessoa do outro lado da linha dizer, urgente e indispensável. Seria alguma coisa grave com Melton? Afinal de contas ela sabia que ele trabalhava em um laboratório... Será que ele tinha sofrido algum tipo de contaminação? Por fim ele bateu o telefone; Tinker Bell poderia jurar que ele estava bem mais pálido do que o de costume. – Eu acho que vou levar esse. – disse largando o livro em cima da mesa. Tinker Bell preencheu o formulário e por fim, entregou o livro a ele, que o colocou na mochila e foi embora de uma vez por todas... Onde será que ele iria. Lá fora, no frio e em meio a toda aquela neve, ele puxou o capuz do seu casaco e colocou por sobre a sua cabeça... Parou um táxi e deu o endereço completo ao taxista. – Depressa por favor, a minha presença é indispensável. – disse enquanto orgulhava-se de si mesmo e temeroso, ao mesmo tempo... Temia pela a sua própria vida.